Sobre o Instituto:
O Instituto Lumiar é uma organização sem fins lucrativos, com sede em São Paulo, SP, e tem o papel de desenvolver a proposta pedagógica das Escolas Lumiar, avalizar que a prática pedagógica das escolas esteja ligada com essa proposta e compartilhá-la, em especial com a rede pública, através de parcerias e contratos de gestão. O Instituto é mantido pela Fundação Semco (agora Fundação Ralston-Semler), que é catalisadora de projetos educacionais, ambientais e estratégicos. Seus mentores, Ricardo e Fernanda Semler, acreditam que a educação é uma chave fundamental para o progresso econômico, social e cultural do país. Por isso se envolveram diretamente na criação de um instituto inteiramente voltado para a pesquisa educacional.
Contribuição à educação:
Não se pode ver ou definir as Escolas Lumiar como parte de um movimento de reforma da escola ou da educação escolar; reforma é um processo de mudança que, em geral, tenta mudar uma instituição, ou por incremento ou por substituição. Reformas, portanto, normalmente são incrementais ou parciais e dificilmente avançam além da forma presente da instituição. As Escolas Lumiar são parte de um movimento de transformação da escola. Transformar significa ir além da forma presente, mudando o paradigma (sem, no entanto, perder a sua natureza essencial de ambiente formal de aprendizagem). O câmbio de paradigma se dá na medida em que elas buscam mudanças sistêmicas, isto é, que não são parciais; afetando apenas um dos componentes da instituição escolar e, transformadoras, isto é, que não são incrementais (acrescentando componentes novos a uma estrutura não adequada para absorvê-los ou até mesmo incapaz de fazê-lo).
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A Lumiar do Lageado (EMEIF Antonio José Ramos) é uma escola pública e rural. Ela é mantida pelo poder municipal e subsidiada pela Fundação SEMCO, por meio da parceria que integrou a escola à Rede de Escolas Lumiar. Em 2 de Fevereiro de 2009, também no bairro do Lageado, foi fundada a Escola Lumiar Internacional - uma escola particular bilíngüe (mas não lucrativa) com a parceria de Ricardo e Fernanda Semler (Fundação Ralston Semler) e Flávio e Gláucia Zuffellato (moradores da região há muito tempo).
A Escola Lumiar se vê e se define como uma escola democrática, não libertária, pois duas das principais características destas últimas é a total liberdade para aprender (que inclui a liberdade de não aprender) e da intervenção dos mestres na aprendizagem dos alunos apenas quando solicitados pelos mesmos. A Lumiar acredita que a escola não pode ter uma atitude puramente reativa e esperar que solicitem sua intervenção, mas que possua uma proposta pedagógica mais positiva, oferecendo um currículo (Matriz de Competências), uma metodologia (Projetos de Aprendizagem), um corpo de profissionais (Mestres que oferecem os projetos e os Educadores que participam da vida dos alunos), uma participação dos pais junto com os educadores (na orientação dos filhos na escolha dos projetos de aprendizagem) e de mecanismos de avaliação (sistemática e periódica dos alunos pelos mestres e pelos educadores).
Proposta Pedagógica:
Para a Lumiar, educar é um processo permanente de desenvolvimento humano, que se dá pela aprendizagem. E aprender é construir e expandir capacidades, tornar-se capaz de fazer o que antes não se conseguia fazer. O foco, portanto, está na construção e expansão, por alunos ativos, participantes e automotivados, de competências e habilidades.
A Lumiar vê o ensino como um processo de desenvolvimento no qual nós seres humanos, que nascemos incompetentes, dependentes e incapazes de assumir responsabilidade pelas nossas vidas, tornamo-nos competentes, autônomos, responsáveis e, no devido tempo, alcançamos realização, tanto pessoal como profissional e social.
É isso que permite aos alunos escolherem os projetos de que vão participar, mas não o fazem sozinhos, mas com a ajuda dos pais e dos tutores da escola. O registro de seu roteiro de aprendizagem, seu Portifólio de Aprendizagem, sempre mostrará espaços em branco que ainda existem no seu aprendizado, e, com base neles, pais e tutores se engajarão no trabalho educativo de mostrar ao aluno a importância de aprender isso ou aquilo, cientes de que há vários projetos diferentes em que o aluno pode desenvolver as competências e habilidades de que carece.
Filosofia da Escola:
Para o ensino tradicional, a educação é a instrução das crianças pelos adultos, cabendo a estas apenas assimilar aquilo que lhes é ensinado (ao que Paulo Freire dá o nome de “educação bancária”). Porém esta idéia de simplesmente jogar o conteúdo em cima das crianças e depois testar este “conhecimento” por meio de provas é incoerente.
Para a Lumiar, o aprendizado só ocorre quando há alguém ensinando com conhecimento e alguém interessado naquilo que está sendo transmitido. Seus pilares são: liberdade, cidadania e aprendizado profundo. O aluno decide se quer ou não fazer parte de um projeto e depois do aconselhamento pelos educadores e pelos pais, essa decisão é respeitada. Caso o estudante faça a opção por determinado projeto, e, posteriormente, concluir não deseja mais participar dele, poderá apresentar razões que serão julgadas se procedentes. Liberdade esta que é o oposto ao vivenciado atualmente pelas escolas tradicionais. Na Lumiar os estudantes têm direito ao voto quanto às diversas áreas de gerenciamento escolar juntamente com os pais e funcionários da administração local.
Um exemplo clássico e indiscutivelmente democrático se refere á problemas com a disciplina, onde são organizadas assembléias em que os próprios estudantes, orientados pelos educadores e pela direção da escola, propõe “os castigos” ao outro, conforme trecho abaixo:
“Essa assembléia de garotada junta todos, uma ou mais vezes po semana ou quando ocorre um incidente. Uma das primeiras rodas tratou de um menino que havia derrubado a estante de livros. Depois de pensar bastante, acolheram a proposta de um dos meninos de que ele deveria ser amarrado à árvore, lá fora. Boa idéia, acharam os outros. O educador perguntou que árvore seria, com que corda. Todos se entusiasmaram. Foi quando ele perguntou quem avisaria a mãe dele de que ele passaria a noite toda amarrado que decidiram que era melhor ele ficar suspenso de usar a biblioteca por uma semana”.
(pg. 10 – Texto :Pequena Escola de Liberdade)
Apesar de muitas vezes se tornar cômico, as assembléias contribuem em muito para a formação da noção de Diretos e Deveres desses educandos, enquanto auxiliam a gestão cotidiana do ambiente em que vivem.
Há liberdade também para escolher o que estudar, uma prática de cidadania baseada em uma convivência e troca de vivências e uma aquisição de conhecimento na assimilação real daquele aprendizado. E é buscando este aprendizado profundo que foi desenvolvido o Currículo por Mosaico – um sistema onde a criança e o mestre registram o que foi aprendido, tudo o que ocorreu na escola, trabalhos realizados, fotos de atividades e desenhos. Dá-se o nome de mosaico porque o conteúdo e habilidades a serem desenvolvidos pelas crianças durante o período escolar foram imaginados como pequenos cacos em uma mesa.
Apesar de caracterizar uma linha de ensino privado, o grupo de alunos não se restringe a indivíduos de classe alta, a Escola beneficia a comunidade com Bolsas de estudos , o que permite a inserção de variadas classes sociais e contribui para uma maior socialização dentro do ambiente escolar. Há uma grande preocupação na formação de cidadãos. Não há armários para professores, refeitório ou banheiro para uso exclusivo dos educadores. Todos são tratados da mesma, os ambientes são compartilhados, bem como todos os materiais utilizados.
A organização da escola se dá por ciclos, projetos e avaliação contínua (tecnologia intelectual – Mosaico), o que possibilita a gestão do conhecimento e a reflexão sobre seus processos de construção. Neste sistema não há crianças agrupadas por idades, mas grupos de trabalho formados por estudantes de diversas idades, unidos sob um tema de projeto. Não há repetência, nem aprovação, pois há ciclos e não séries. A escola avalia e observa a produção da criança, seja ela coletiva ou individual, registrada no caderno, na lousa, no ClassMate ou no chão. É avaliado seu processo mental nas atividades, seja na escrita, em um debate oral, na leitura de um texto interpretativo, na construção de um painel ou maquete. Todas as avaliações (inclusive as realizadas por meio da observação da educadora) têm o mesmo peso. Seja durante a hora do almoço, no parque ou em outra atividade. Todo ambiente é um momento de aprendizagem e de observação, pois no parque a criança irá construir regras e se relacionará com os colegas, durante a discussão de um tema irá expor suas idéias e opiniões, e no desenvolvimento de um projeto utilizará seus conhecimentos, adquirirá novos e interagirá com o grupo. Não há boletins, mas um relatório do educador com aproximadamente 40 páginas.
Três pilares sustentam a visão democrática proposta pela escola: uma gestão composta por assembléias, comissões e conselhos (integrados por estudantes, educadores, funcionários, gestores e pais interessados), uma diversidade do corpo discente (composto por estudantes de diversas culturas, idades e origens sociais) e a construção dos itinerários de aprendizado sem uma visão de estoque de conhecimento.
O método de ensino da Escola Lumiar busca a formação do indivíduo com conhecimento em diversas áreas e não somente um profissional para o mercado de trabalho. Assim o professor tradicional foi dividido em dois profissionais diferentes: o Mestre e o Educador. O educador é responsável por receber os alunos (cada uma acompanha cerca de 15 a 20), em período integral. Ele é quem acompanha seus alunos durante seu crescimento, ou seja, ele não é substituído a cada ano, mas permanecerá com a criança por toda a sua vivência na escola - diferente do que acontece nas escolas tradicionais, em que são substituídos a cada ano.
A intenção é de que o educador seja uma referência e acompanhe todas as atividades que são realizadas pelos estudantes (pedagógicas e as recreativas) e devem ajudá-los no seu desenvolvimento físico, social, emocional, moral e intelectual.
Exige-se do educador que ele conheça bem as crianças com as quais vai trabalhar, interaja com os pais dos alunos para saber as preferências e informá-los sobre o desenvolvimento e desempenho de seus filhos na escola. Cabe a eles ainda avaliar periodicamente seu desenvolvimento e realização das tarefas. O educador tem o papel de mentor dos estudantes, ouvindo, incentivando e orientando seu aprendizado.
Os educadores, desse modo , se limitam a um número menor de alunos, conduzindo os mesmos através de projetos escolhidos que tem por finalidade aprender o conteúdo de maneira atrativa e interdisciplinar.
“Na Educação Democrática o professor atua como orientador dos educandos em seus aspectos social, afetivo e cognitivo; os grupos são pequenos e interetários proporcionando relações, normalmente, impedidas pelas estruturas escolares seriadas. Os educandos escolhem seus itinerários de aprendizagem a partir de seus interesses, na busca de autonomia e autodisciplina”. (http://www.politeia.org.br/Escola+Lumiar)
Os Mestres são os profissionais pedagógicos responsáveis pelo desenvolvimento, planejamento e execução dos projetos (suas vivências partilhadas) que as crianças escolheram. Eles avaliam seu desempenho na realização e se atingiram as habilidades e competências previstas nas realizações das atividades. A Lumiar exige que sejam apaixonados pelo que fazem, para assim despertar a mesma paixão em seus alunos e, para tanto, devem ter domínio pleno sobre o conteúdo que transmitirão a seus alunos. Os Mestres não são necessariamente professores graduados, mas podem ser profissionais de diversas áreas como: carpinteiros, químicos, artistas de circo, biólogos ou pessoas da comunidade. o estudo não é ministrado dentro de uma sala de aula, mas desenvolvido dentro dos projetos de aprendizagem.
Algumas características para estes profissionais são necessárias, como dominarem com competência um conteúdo específico e serem capazes de desenvolver em seus alunos a capacidade de produzir seu conhecimento (para que assim fujam da simples transmissão de conhecimento). Se estiverem presentes: domínio, o foco nos métodos de investigação e motivação, os mestres não devem ter problemas para conseguir que os alunos voluntariamente se disponham a participar de seus projetos. Enquanto os educadores oferecem constância e continuidade, os mestres oferecem mudança e diversidade.
É importante ressaltar que mesmo com toda esta diversidade, a Lumiar pauta seus fundamentos nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tendo seus princípios incorporados aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que deixam claro que a função da escola é auxiliar os alunos a construir as competências básicas necessárias para “o pleno desenvolvimento humano” (PCNs do EM. Vol. I, p.23), e que suas competências básicas (necessárias para o desenvolvimento humano pleno) devem cobrir tanto o desenvolvimento pessoal, profissional e
social (necessário “para o exercício da cidadania”) (PCNs do EM, vol. I, p.23), representadas nos quatro pilares: Aprender a ser (desenvolvimento pessoal), aprender a conviver (desenvolvimento social), aprender a fazer (desenvolvimento profissional) e aprender a aprender.
Na Lumiar as competências estão relacionadas a psicomotricidade (movimentos e coordenação motora), à percepção (órgãos dos sentidos), ao pensamento (raciocínio, argumentação, decisão, escolha, imaginação, ação e memorização), á linguagem verbal (fala, leitura e escrita da língua materna e uma estrangeira), à matemática (operações básicas, linguagem algébrica, sistema numérico decimal e medidas), gestão da informação e do conhecimento (pesquisa e uso), comunicação e relacionamento interpessoal (comunicação oral e escrita, respeito e colaboração).
O horário das aulas também é diferente na Lumiar, pois há uma preocupação em buscar o melhor aproveitamento intelectual das crianças, além de melhor adequar o horário dos pais. Há uma flexibilidade e assim o horário de entrada de um aluno é estabelecido acordando a quantidade de horas contratadas pelo pais aliado aos horários dos projetos que a própria criança escolheu participar.
“Nos primeiros dias, quando liberamos o horário para os pais - que apenas contratam um certo número de horas por dia -, os educadores ficavam aflitos com o acúmulo de carros que ocorreria as 7h45. Afinal, os pais têm de ir trabalhar, têm de deixar as crianças antes, não? Ledo engano. Temos uma meia dúzia de crianças que chega antes das 9 horas e quase todas chegam em tempo para o primeiro projeto de mestre que se comprometeram a assistir, às 10 horas. Pronto. Sem choro. Chegam e saem saltitantes do carro.”
(pg 11 Texto: Pequena Escola de Liberdade)
Estrutura de funcionamento:
Princípios que compõem a estrutura de funcionamento da Lumiar:
I - CURRÍCULO POR MOSAICO
II - DEMOCRACIA NA GESTÃO PEDAGÓGICA
III - EDUCADORES E MESTRES (FIGURA DO PROFESSOR)
IV - EDUCAÇÃO POR PROJETOS
I - CURRÍCULO POR MOSAICO:
O Mosaico é um Sistema de Informações, cujo objetivo é permitir a Gestão Pedagógica da Escola
Lumiar que envolve: Matriz de Competências, Banco de Projetos e Portifólio de Aprendizagem.
Matriz de Competências - define e descreve o que os alunos podem e devem aprender (currículo).
Banco de Projetos – é uma base de dados acerca de projetos de aprendizagem que os alunos podem escolher (onde desenvolvem competências). A coordenação é realizada por pessoas da comunidade, que não possuam apenas uma das competências básicas da Matriz de Competência, mas também, que saibam compartilhá-las com paixão, podendo ser profissionais liberais, homens de negócio, artistas, trabalhadores ou mesmo pais de alunos. Qualquer pessoa que possua competências interessantes que gostariam de compartilhar com os alunos, com disposição para doar seu tempo durante curtos períodos (de duas semanas a dois meses), ajudando alunos interessados a dominar essas competências. O Banco de Projetos inclui uma descrição pormenorizada do projeto e das competências (incluindo as sub-competências), habilidades, conhecimentos, valores e atitudes que serão trabalhadas no processo. Ele também deve listar as pessoas que podem coordenar esse projeto, contendo informações sobre seu perfil pessoal e profissional.
Portifólio de Aprendizagem – É um banco de dados da aprendizagem dos alunos descrevendo seu itinerário de aprendizagem dentro da Lumiar.
Composição do Portifólio de Aprendizagem:
Avaliação inicial do aluno (ao ingressar na escola), detalhando quais competências já possui e em que nível as domina. Esta avaliação serve de base para o trabalho de aconselhamento ao aluno acerca dos tipos de projeto de aprendizagem que deverá desenvolver ao longo dos quatro bimestres do primeiro ano de escola.
Listagem detalhada de todos os projetos de aprendizagem que o aluno vier a contratar (histórico).
Avaliações bimestrais feitas pelos mestres e educadores sobre o desempenho dos alunos, sobre sua “inteligência social e emocional”, seu comportamento geral (especialmente com os projetos), suas atitudes (para com a vida, os outros, as coisas), seus valores e suas relações interpessoais (dados retirados de observações de todos os educadores e da Roda).
Avaliação anual feita ao final dos Ciclos (Infantil, Fundamental I, Fundamental II e Médio) que deve conter uma análise detalhada do desenvolvimento do aluno que justifique o prosseguimento dos estudos no nível imediatamente superior, além das avaliações anuais do desempenho dos alunos com o resumo do desenvolvimento durante o ano.
Registros periódicos e detalhados do desempenho do aluno, permitindo que se possa aferir seu progresso em sua aprendizagem.
Registros da apropriação, por cada aluno, de conteúdos disciplinares envolvidos na execução dos projetos.
Mosaico digital:
O Mosaico Digital é o centro de um Sistema Virtual de Educação Lumiar, a ser disponibilizado através de um site, que, além de informações sobre a Lumiar, conterá a Matrix de Competências, o Banco de Projetos e o Portifólio de Aprendizagem dos Alunos. Qualquer escola ou qualquer professor poderá acessá-lo, podendo avaliar os projetos existentes, inserir novos projetos, etc.
Estrutura física/administrativa:
Estrutura física
A estrutura física da Lumiar é bastante diferente das escolas convencionais (onde os alunos são dispostos dentro de uma sala de aula, em carteiras enfileiradas, à espera das informações dos professores), há salas de aula (mas também espaços abertos), há carteiras (mas não enfileiradas), há mestres e educadores (mas estes são responsáveis por conduzir e não impor conhecimentos). Além disso, toda a mobília e espaços foram projetados para as crianças (inclusive os banheiros e as pias).